Doutrina Filosofia Umbanda

Sincretismo: Uma Verdadeira Lambança

Saudações, Prezados Irmãos de Senda.

Depois de levar uma dezena de pedradas quanto ao meu posicionamento aos trabalhos na Quaresma, eu não aprendo, e vamos lá expor a minha inútil opinião sobre o sincretismo.

Etimologia

Oriunda do termo grego sygkretismós, “reunião de vários Estados da ilha de Creta contra o adversário comum”.

O que é Sincretismo?

Podemos entender que sincretismo é uma junção de doutrinas e fundamentos que são absorvidas pelo culto em questão, podemos lembrar que o Cristianismo na verdade foi um grande compilado de religiões pagãs e outras cultos romanos da época, sim, a vocês que acham que o Cristianismo é puro, meus pêsames, e digo mais, se existe uma certeza que eu tenho sobre Cristo, é que ele não era Cristão! Rsrs

Mas sem mais delongas, podemos observar isso nos cultos afros, para muitos, Ogum e São Jorge é a mesma entidade e fim de conversa! Muitos centros de Umbanda cultuam os orixás com imagens de santos católicos, isso deve-se somente ao fato de termos as raízes cristãs tão impostas em nossa cultura e pela nossa colônia portuguesa. Porque Ogum aqui não poderia ser Ares? Marte? Thor? Montu? Até mesmo o Guerreiro Arjuna nos contos de Gita? Hachiman nos contos míticos japoneses? Mas por que São Jorge? Justamente pela nossa pesada e chata imponência católica que temos em nossas raízes desde os primórdios; Mas como todo personagem Mítico, Jorge também além de não ter sido nenhum santo e nenhum exemplo de conduta, também está envolvido em várias lendas, como o cavalo albino, a morte do dragão, todas ilustrações de vagas ideias antropomórficas impregnadas em nossas mentes ávidas por ídolos.

O Sincretismo na Umbanda

É sabido que Zélio Fernandino de Moraes, o dito fundador da Umbanda tinha raízes católicas e espíritas, tanto que os sete centros abertos pelo seu mentor Sete Encruzilhadas levava no nome de “Espírita” e o nome de um santo católico como podemos observar o nome de seu primeiro centro foi chamado de “Tenda Espirita de Umbanda Nossa Senhora da Piedade”. Muitas casas adoram a imagem de São Jorge como se fosse Ogum, isso pela semelhança em seus arquétipos, ambos guerreiros, ambos “montados no cavalo”, ambos trazem para si a energia e a bravura que são preponderantes na Guerra, assim também como Santa Bárbara para Iansã, Nossa Senhora dos Navegantes para Iemanjá, se presenciarem, ambos possuem arquétipos semelhantes, e como a Umbanda era muito “popular” era muito mais fácil associar nomes complicados de Orixás com nomes corriqueiros em nosso cotidiano, obviamente, ninguém iria colocar a imagem de Marte, o Deus Romano da Guerra ou Ares, o Deus grego da guerra para sincretizar Ogum, por ser um conhecimento mais restrito para muitos.

Conforme mencionei, a Umbanda possui várias vertentes, a vertente designada pelo Zélio indubitavelmente sofreu centenas de mudanças para até o dia de hoje, fato que comprova a veracidade dessa informação é a Tenda Mirim, fundada em 1924, passou a ignorar o culto aos santos católicos em sua casa, com exceção de Jesus Cristo. Entendo que na época de Zélio, já era chocante ter em uma mesa branca a existência de um índio, dito ignorante por muitos, ainda trazendo nomes de “santos” africanos, obviamente Sete Encruzilhadas com todo o seu conhecimento quis fazer com que a transição para o novo culto fosse extremamente suave e o mais sutil possível para não abalar intensamente nossa cultura e nem tampouco nosso vago conhecimento de como funciona o mundo espiritual.

Sincretizar os santos obviamente é uma questão de opinião e prática, como diz o meu artigo, eu acho uma verdadeira lambança essa mistura, o sincretismo não fica somente nessa associação de imagens de santos com orixás, é a reza do pai nosso na abertura de muitos centros, sim, pai-nosso é uma prática CATÓLICA e não Cristã, e sim CATÓLICA, tanto que muitas vertentes do Cristianismo, como presbiterianos, pentecostais não rezam o pai nosso durante o culto justamente por não fazer parte da tradição cristã original.

Diversos traços católicos são encontrados no culto umbandista, a reza já citada, as imagens, a própria defumação,( utilizada pelos católicos, mas absorvida pelos cultos pagãos como forma de trazer à energia natural dos elementares), para isso, existem os dois lados, como sempre falo, a Umbanda é uma verdadeira mãe abrigando em seu seio todos os ritos que praticam o amor e a caridade, em contrapartida, eu não acho interessante justamente pela falta de identidade que a mesma possui, podem me criticar, mas uma vez vi um médium se debatendo inteiro em um trabalho, não sei se era o kabrunko na matéria dele, que raios que era, na hora a gira foi interrompida, assim com os atabaques, o baiano do dirigente começou a colocar a mão na cabeça do pirilampo e começou a rezar pai nosso e ave Maria (Desculpem, é demais pra mim). Mas como eu digo, é questão de opinião, de egrégora, de aprendizado. Como podem observar em meus posts, não sou nenhum pouco simpático ao catolicismo, respeito toda a iconografia, todos os aspectos eclesiásticos, mas eu acho uma das maiores hipocrisias da história, alguém pregar acabar com a fome e não vende muitos bens de um país considerado um dos mais ricos do mundo, mas Ostentação tá na moda!

Eu li um livro de Decelso, escrito em 1967 chamado “Umbanda de Caboclos”, ele compara e sincretiza as divindades iorubas (Orixás) com as indígenas, segue um trecho dessa comparação:

IARA – Divindade ou “deusa” das águas = Iemanjá;
TUPI – Divindade ou “deus” do Fogo = Erê;
CARAMURU – Divindade do Trovão = Xangô;
URUBATÃO – Divindade ou “deus” = Ogum;
AIMORÉ – Divindade ou “deus” da caça = Oxóssi;
JUREMA – Divindade das matas, cachoeira = Oxum;
JANDIRA – Divindade dos grandes rios = Nanã
MITÃ – Divindade criança = Ibeji;
IURUPARI – Divindade do mal = Elebá ou Exu;
ANHANGÁ – Divindade da peste = Omulu.
GUARACI – Divindade representativa do Sol = ORUM;
JACI – Divindade da Lua = OXU;
PERUDÁ – Divindade do Amor = OBA;
CAAPÓRA – Divindade protetora dos animais = OSSONHE (Ossãe);
CURUPIRA – Divindade dos Campos = CORICO-TÔ;
IMBOITATÁ – Divindade dos Montes = OKÊ;
TUPÃ – Divindade Suprema, pode ser identificada como Oxalá, ou melhor, Obatalá ou Zambi.

Com isso, compreendemos que é possível sincretizar os Orixás com outros cultos, como a Umbanda tem grande influência indígena, por que não cultuar Ogum com a Imagem de Urubatão, por exemplo? O Sincretismo é apenas uma percepção material e não espiritual, podemos observar os cultos do Primado de Umbanda, do próprio pai Rivas onde a utilização de imagens é praticamente inexistente. E depois de 100 anos de religião, acho que já passou da hora de entender que Ogum é Ogum, pode sim, entrar no arquétipo da Imagem do Guerreiro, isso também é muito mencionado nos livros de Joseph Campbell onde “humanizamos” qualquer tipo de ídolo denominado herói, mas se formos partir dessa premissa, Ogum pode ser outras divindades de Guerra como mencionei no começo do artigo. Ainda existe a teoria de serem todos a mesma Divindade, mas com outras denominações devido à região, por que não? Não Seria Peter, Pedro, Petrus, o mesmo nome com terminologias diferentes? Se formos partir dessa premissa, o que é algo para se pensar, obviamente São Jorge não está incluso, porque ele foge de todo o panteão mítico, não é um Deus que nasceu em uma incontável Era e sim um ser que viveu na Idade Média e conforme já frisei, não tinha nada de santo.

O Sincretismo e a Influência Católica é tão enraizada na liturgia Umbandista que até o dia de Ogum na Umbanda é o mesmo dia de São Jorge na Igreja

Existem casas que sincretizam Ogum como o Arcanjo Miguel, o que ainda pode fazer mais sentido que São Jorge, em termos de vibração, desprendimento divino, Segundo a Angiologia, são seres que estão mais próximos de Deus e que já alcançou a Grande Iluminação, é dessa mesma forma que eu compreendo os Orixás, que também são partes Dele, tanto que os nomes de Arcanjos (Vem da raiz arch que deriva de arché, que refere-se a “ponto de partida” “suprema substância subjacente” o que governa”) se forem observarem toda a etimologia, podem verificar:

Miguel – Vem do Hebraico Mikael – Mi – Quem/Aquele; Ka – como; El – Deus (Quem/Aquele Como Deus);

Gabriel – Vem do Aramaico Gavriel – Ga – Homem; Vri – Forte; El – Deus (Homem Forte de Deus) – Também tradicionalmente considerado do Anjo da Morte;

Rafael – Vem do Aramaico Rafael – Rafa – Cura; El – Deus (Cura de Deus).

Interessante mencionar que as três maiores religiões monoteístas, falam de Anjos em suas escrituras, a Torá, a Bíblia e o Alcorão.

Sincretismo é apenas uma forma de referência, uma forma de referenciar alguma coisa que não sabemos, ter uma relação, apenas isso, mas como a Espiritualidade é compreensível com nossa ignorância, permitem que essas coisas ocorrem, uma vez, em um centro, Tranca-Ruas desceu para trabalhar e um dirigente chamou-o de Tiriri, um irmão que também conhecia toda a forma de sua manifestação, chegou perto dele e perguntou: Meu pai, vós não é o Tranca-Ruas? Ele disse: – Se for pra me deixar trabalhar e fazer o que eu devo fazer, pode até me colocar saia rodada e me chamar de Maria Padilha.

Às vezes é evidente que o dirigente não confia somente na força da Egrégora da Umbanda e tem que apelar para outros ritos, defumação recitando o Salmos como já presenciei, Oração a São Jorge Guerreiro em Giras de Ogum, como eu disse, é questão de opinião e não estou entrando no mérito do certo ou errado e sim a falta de identidade existente nos centros umbandistas, como disse uma irmã essa semana, mencionando que passou da hora da Umbanda andar com suas próprias pernas e isso vem acontecendo com codificações doutrinárias, como mesmo mencionei o Primado de Umbanda.

Para muitos que me conhecem, sabem que eu sou universalista, aprecio todas as formas de alcançar a Deus, desde que estejam bem fundamentadas e argumentadas, justamente pela ojeriza com muitos ritos eclesiásticos eu prefiro que a Umbanda que eu pratico, tenha uma raiz mais oriental, menos dogmática e Deus em sua infinita sabedoria, trouxe a mim irmãos de Jornada afim com meus interesses e propostas para que possamos galgar juntos para a senda da evolução.

Em minha modesta opinião, uma meditação antes dos trabalhos, bem como uma evangelização teria muito mais utilidade do que um conjunto de palavras decoradas, obviamente, para a constituição de uma egrégora e um ambiente de trabalho firme, vale muito mais a firmeza e desprendimento do médium a qualquer ritual engessado e decorado, se você está rezando um Pai Nosso pensando na camisa do filho ao lado, aquele que está em silêncio pedindo ao Altíssimo amparo e sabedoria terá muito mais poder durante os trabalhos que você.

Algumas considerações pessoais sobre todo o sincretismo umbandista

Muitos dizem que na Umbanda, os escravos utilizavam as imagens para esconder os orixás, mas eu reflito, se a Umbanda foi fundada em Novembro de 1908 e a abolição da escravatura realizada em maio de 1888, não faz muito sentido essa “desculpa” não? O que constata que os escravos não praticavam a Umbanda e se a praticavam, Zélio apenas publicou a reinvenção da roda. Alguém está errado aí!

Acho que deixei claro a minha opinião que discordo veementemente do sincretismo, e que se for pra acreditar em mitologia (Porque um homem com uma lança em um cavalo branco é coisa de filme não?) prefiro acreditar nas antigas que possuem toda uma alegoria filosófica por trás e não a ostentação de poder tão imposta pelos nossos colonos eclesiásticos.

Se fosse sincretizar Orixá, como eu acredito em desprendimento de Deus e não um ser vivente que saiu matando todo mundo, estourou a espada no chão e se “encantou” como se a Lei do Carma não existisse, eu preferiria sincretiza-lo como um Arcanjo ou até mesmo um Deva (Seres de Grande Pureza no Hinduísmo) porque é assim que eu vejo a vibração Orixá.

Acho o sincretismo um grande aliado ao “emburrecimento” e degradação do culto umbandista, na verdade, às vezes acho que é uma carência exacerbada que resulta uma necessidade demasiada de aceitação por todos. Esse emburrecimento é no sentido de que muitas casas que eu conheci que acham que Ogum é São Jorge, são as mesmas que cultua o Exú como o servo de satanás, um ser chifrudo com pata de cavalo e vermelho, como a maioria das imagens dos exús que aceitamos e engolimos com todo o prazer). E a parte da carência é que queremos ser aceitos, então copiamos algo impregnado na nossa cultura que é esse monte de santos e ritos “aceitos” pela sociedade.

Veja o período de quaresma é mais um grande ponto que demonstra nossa amarração litúrgica com o sincretismo cristão

Discordo veementemente do sincretismo entre orixás e santos católicos, mas tento respeitar o máximo que eu posso, mesmo porque aqui em nosso plano só vivemos em conjecturas, mas podemos sim retirar aos poucos o véu de Isis e através de muitas pesquisas, migrarmos das Trevas de nossa Ignorância para a Luz da Sabedoria Universal.

As Imagens de Santos são apenas um potencializador de energia, muitos de nós, infelizmente ainda precisamos ver para crer, ou pelo menos ver através de um de nossos sentidos para acreditarmos na existência de algo, sentir através do nosso sexto sentido não é o suficiente, temos que ver e para isso, criamos diversas ferramentas, criamos ícones, ídolos para que possam suprimir nossa vasta solidão nessa Imensidão chamada Universo, precisamos crer em alguma coisa e para isso, precisamos “ver” e para isso, criou-se esses sincretismos para auxiliar-nos em nosso mecanismo de fé sem que abandonássemos nossa zona de conforto (nossa cultura católico-cristã).

O sincretismo culturalmente falando, é bem vindo, pois abraça as pessoas de outras liturgias e facilita a aceitação dos mesmos para uma nova liturgia, no caso a Umbanda, mas junto com esse ponto extremamente positivo, vem com outros muitos negativos, como o exú ser o diabo, como a necessidade de rezar o Salmos, o terço e toda aquela herança cultural que tivemos, com isso, MUITAS VEZES, desprezamos a sabedoria indígena, africana e afins  se perdendo em tantos ritos católicos e cristãos dentro da Umbanda.

O Cristianismo é uma corrente importante de nossa herança religiosa, tanto que muitos ritus espiritualistas usa como base, porém, Oxalá também não é Jesus Cristo, Oxalá é uma Manifestação de Fé da Própria Vibração de Deus e Jesus foi um dos muitos Avatares que veio em nossa Terra para trazer os ensinamentos do Altíssimo, assim também, como tivemos Krishna, Buda, Akhenaton, Confucio, Haiawatha, Moisés e muitos outros missionários Portadores da Palavra, portanto, graças ao nosso berço impositivo e religioso, só aceitamos Cristo como filho de Deus, o que é uma ignorância na minha opinião, existiram muitos outros Iluminados de outros continentes que vieram trazer os mesmos ensinamentos e também operar grandes milagres.

A História só é contada por aqueles que possuem poder e persuasão sobre a massa, portanto, sempre desconfiei de supostos “Santos” e sejam fiéis aos princípios umbandistas adotados pelos guias espirituais, independente da corrente do qual é oriunda o seu mentor, seja transparente e fiel aos princípios ensinados por eles.

E como eu sempre digo, isso aqui é apenas um espaço para divulgação de minhas ideias e conhecimento, não de traduz a mais absoluta verdade, e confesso, pode ter um monte de baboseira nesse blog, mas tenho certeza que instigo a muitos refletirem.

Tenham a certeza que pelo menos sou extremamente sincero em minhas palavras e honesto com minhas buscas, pois vou deixar uma máxima de Bruce Lee abaixo:

“Um homem sábio pode aprender mais com uma pergunta tola do que um tolo com uma resposta sábia.”

Paz Profunda

Neófito da Luz .’.

Nota: Não quis entrar no mérito de outros santos e seus respectivos orixás para o texto não ficar muito extenso.

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This Post Has One Comment

  1. Concordo plenamente. No sincretismo perdemos boa parte da identidade cultural na qual de fato a Umbanda está enraizada.

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